Ele a esperava no portão. Estava de banho recém-tomado, sem camisa e com
uma bermuda que ela ainda não conhecia. A novidade não estava só na
bermuda, mas também no semblante. Como dizem os mais velhos, a gente
pode mesmo viver com alguém por anos a fio e, mesmo assim, não a
conheceremos por inteiro.
Dessa vez ela notou também a barba (detalhe que sempre demorava a perceber), talvez porque lá no fundo sabia que não haveria outra oportunidade.
Apesar das faces cizudas, ela tinha o sentimento de gratidão e ele, a sensação de que havia esgotado as tentativas. Devolveram um ao outro alguns pertences e eles, que outrara falavam pelos cotovelos, tiveram o último e atípico diálogo:
- Obrigado, ele disse.
- Imagina, respondeu ela.
E foi assim o derradeiro contato de almas que se cruzaram com o simples propósito de amar.
P.S.: "Quem não sabe o que quer, perde o que tem."