terça-feira, 26 de maio de 2015

QUE O MEDO FIQUE NO ARMÁRIO




A noite que antecede o primeiro dia de aula no novo ano é sempre motivadora de um compêndio de sensações. A gente quer chegar com o uniforme impecável, se pergunta quem serão os colegas a conviver conosco diariamente. 

Em geral, o que se faz presente é o frio na barriga porque o que a gente desconhece gera medo. A cada mudança ou recomeço  é assim que nos sentimentos, receosos. É assim com mulher que espera pra dar luz ao primeiro filho, com o idoso que percebe que é a hora de se aposentar, com a família que troca de cidade, com o quarentão que opta pelo divórcio ou com a jovem que deixa a casa dos pais. 

E tanto medo pode parecer coisa de gente insegura, que lá no fundo, nunca foi capaz de arrancar as rodinhas de apoio da bicicleta. Mas vem a vida e nos mostra que não é questão de imaturidade. Minha avó, a mais velha entre doze irmãos, é uma guerreira. No alto dos seus 73 anos ainda cuida de roça, da casa no sítio e, principalmente, do turrão do meu avô. Toda essa experiência de vida não impediu que ela titubeasse quando teve de decidir se faria uma longa viagem para visitar um parente na capital. Eu tiraria de letra porque sou do mundo, mas para ela a novidade assustou, gerou receio e até custou algumas noites em claro. "Quem não sente medo que atire a receita do Cão Coragem". Aquele destemido cachorro dos desenhos animados. 

O medo do desconhecido deve ter suas explicações psicológicas, as quais ainda desconheço, mesmo depois de certa familiaridade com o divã. Mesmo baseada apenas em conhecimentos empíricos, penso que o problema não seja sentir medo, mas sim ser paralisado por ele ou usá-lo como muletas para não ousar, não evoluir, não se desafiar. Para aqueles que  acreditam na existência de outras vidas, não seria tão perigoso superar o medo e seguir, já que, se por esse motivo, você viver errando, vai ter novas chances de corrigir lá na frente. 

Para os que creem que só se vive uma vez , lembrem-se que a vida é curta demais para que sejamos derrotados pelo medo. Encarar o frio na barriga pode ser surpreendente e renovador. Talvez seja a atitude que falta para despertar um modo de vida que nos estimule novos propósitos para acordar todas as manhãs em busca dos nossos sonhos engavetados no armário do medo.

P.S.: "Cada um sabe o que passa e o que amarrota".