Fevereiro de 1989 |
De dia o cheiro era do
jardim da casa onde cresci. Pouco mais tarde (se é que seis horas da
manhã pode ser considerado um horário mais ou menos tarde) sempre tinha aquele cheiro
de alho que vinha da marmita que a vizinha preparava para o
marido. Era fácil adivinhar o cardápio do dia nas residências ao redor.
Alguns moradores da esquina vi crescer e
um da direita vi morrer. Na família que morava do outro lado tínhamos plena confiança e eram eles que guardavam as chaves da nossa casa em situações de emergência (como o aparelho celular fazia falta naquela época).
Não era difícil saber que o João e a Rosa discutiam todos
os dias. Ju e família assistiam TV em alto volume e davam gargalhadas ao ver o Programa do Jô em um horário que a maioria dos vizinhos já esquentava as camas com os corpos preparados
para a labuta do dia seguinte.
Por lá são poucos os prédios, mas nas ruas tem
carros novos daqueles que nem anúncio na televisão tem
ainda. O que não tem por lá é cheiro de trânsito. Depois que a noite
cai, tem lugar da cidade com aroma de cachorro-quente, gosto de terra molhada e morador sentado na cadeira de área, colocada estrategicamente na calçada, para
observar o movimento nas ruas. Também tem lugar com cheiro de mato, mato mesmo, e
muitas casas em construção.
Foi nesse lugar, com
menos de duzentos mil habitantes, que nasci e cresci cercada por valiosas percepções. E é para essa mesma Terra que volto sempre que preciso recarregar as energias. Ter raízes é fundamental para manter a base estruturada.
P.S.: Recalculando rota e fazendo reajustes!
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