Certo dia, um senhorzinho a quem eu acabara de conhecer na sala de espera de um consultório médico, olhou-me e fez uma observação que jamais esqueci. Com uma xícara de café na mão e uma revista aberta na página de uma cruzadinha, ele virou o corpo em direção a mim e quando nos encaramos disse ele que eu tinha "olhos de menina pidoncha. Não no mau sentido" (corrigiu ele). "Você tem um brilho no fundo desses olhinhos que mostram o seu bom coração e sei que você conquista a amizade de todo mundo só com o olhar", continuou o homem grisalho e bem vestido.
Vários pensamentos tomaram conta de mim e, naquele momento, perdi a fala, mas ofereci o meu sorriso mais sincero. Logo em seguida ouvi meu nome completo ser dito em voz alta, entrei na sala do médico e nunca mais vi o homem que me roubou as palavras.
Com o tempo a gente aprende que ser sempre transparente é sinônimo de facilitar que um estranho qualquer use tal característica para nos causar expiações. Desde o dia que tive essa lição demoro a me abrir, até porquê leva tempo para saber quem realmente merece ou precisa conhecer quem sou hoje; mas quando vejo minhas fotos, logo penso: meus olhos continuam transparentes.
P.S.: "Tu vens, tu vens, eu já escuto os seus sinais..."
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